Gratidão, Humildade, Disciplina e Coragem

Hoje vou partilhar o texto do discurso que proferi na cerimónia do 144.º Aniversário do Comando Distrital de Coimbra da Polícia de Segurança Pública.

O discurso assentou em 4 valores: Gratidão, Humildade, Disciplina e Coragem.

O primeiro pilar – a Gratidão – tem 4 consequências em nós, nas nossas famílias e nos cidadãos que servimos: melhora a saúde mental e física, aumenta a nossa felicidade e a felicidade dos outros, ajuda no desenvolvimento profissional e ajuda na prossecução dos objetivos.

O meu coração inclui aqui a Mulher que, ao meu lado, me ilumina o caminho mesmo nos momentos mais escuros. Obrigado, Ana Luísa.

Por isso quer a razão que eu demonstre gratidão a todo o efetivo do comando da PSP de Coimbra. Sem vós eu não sou o Homem e o Polícia que é grato diariamente por ser o Comandante de quem tudo faz em prol da nossa Missão – vocês.

Outro exemplo de parceria que aqui quero realçar é evidenciado pelo vídeo que está a passar nos ecrãs no foyer, ou pelo programa da cerimónia com o lugar em sala que vos foi entregue, fruto do trabalho do Jaime e da Joana, os nossos estagiários de licenciaturas da Escola Superior de Educação de Coimbra do IPC.

Gratidão aos nossos parceiros. Por já serem muitos, e alguns há muito tempo, permitam-me exemplificar aqui e agora, em jeito de surpresa, na pessoa da Dra Isabel Maia, Presidente da Liga dos Pequeninos, o quão gratificante é trabalhar ao vosso lado, em prol das crianças que por razões várias conhecem o vosso trabalho e altruísmo. (...)

Quero também demonstrar gratidão aos Comandos Distritais da PSP vizinhos do comando de Coimbra e à Unidade Especial de Polícia. Vocês e o vosso efetivo são a demonstração de que juntos somos mais fortes. Sou grato por todas as partilhas de efetivo e de recursos que desenvolvemos em prol da Segurança Pública de Portugal.

O segundo pilar, a Humildade.

Humildade para reconhecer que a nossa Missão nunca está concluída, e que está sempre em permanente dinâmica política, económica e social. Por isso, humildemente assumimos que o futuro é volátil, incerto, complexo e por vezes ambíguo. Por isso, lidamos com a fragilidade dos princípios, a ansiedade coletiva contemporânea, o futuro próximo nem sempre linear, e a incompreensão por vezes plasmada pela falta de comunicação do contexto e do propósito. Por tudo, peço que todos nós, efetivo do comando, vizinhos e parceiros, nunca deixemos de nos reconhecer humildes na cooperação e eternos aprendentes.

Humildade no reconhecimento de que temos que cuidar mais e melhor de nós e dos nossos. Assim aponta a estratégia da PSP em vigor, na qual se alinha a estratégia do Comando de Coimbra. E de onde quero destacar o projeto phasing-out – preparação da saída do ativo. Após autorização da Direção Nacional da PSP iniciámos com uma folha praticamente em branco. Construímos um caminho. Já fechámos um primeiro ciclo do projeto. E de tal forma foi considerado relevante, que conseguimos, em mais uma parceria, desta feita com o Centro de Direito Biomédico da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, uma candidatura aprovada num projeto Erasmus +, avaliada com 92% de mérito. A PSP – em concreto o Comando de Coimbra e a Divisão de Psicologia da Direção Nacional – e as Polícias de Berlim, da Croácia e da Letónia, estão a desenvolver, no âmbito da redução de riscos psicossociais nas instituições policiais, um modelo e conteúdos de formação para melhorar a condição de bem-estar dos Polícias. Este projeto, com términus previsto para finais de 2023, aborda quatro conceitos principais: a preparação para a saída do ativo, a redução do stress em ambiente operacional, o luto, e o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional.

Humildade para reconhecer que não conseguimos fazer tudo o que planeámos e a que nos propusemos. (...)

Humildade para reconhecer que podemos fazer sempre melhor. Assim dita a heurística da nossa Missão.

O terceiro pilar, a Disciplina.

Não confundamos o conceito com a expressão da “educação ou falta dela”. Comecemos antes por assumir a disciplina na observância da lei, das regras gerais e das regras especialmente aplicáveis aos Polícias. Disciplina também na emissão e cumprimento das ordens e determinações. Disciplina que implica a adoção, por todos, de irrepreensível comportamento cívico entre nós e para com os outros, de uma atuação com integridade e competência profissionais, onde o respeito pela diversidade, equidade e inclusão sejam padrões inquestionáveis. Ainda que o paradoxo ou a dicotomia da lealdade e da honestidade nos possa toldar, e assumindo que na nossa condição bio-psico-social (e para alguns espiritual) o egoísmo e o altruísmo são difíceis de articular, a disciplina é basilar para conseguirmos, em conjunto, promover a confiança e o respeito da população. Só assim prestigiaremos a PSP e Portugal.

Disciplina também nos resultados alcançados, mesmo com os constrangimentos pandémicos de todos sobejamente conhecidos. Por despacho formal do comando foram temporariamente suspensas as iniciativas e atividades previstas ao nível local. A prioridade foi clara: manter a operacionalidade e a segurança pública, e garantir o cumprimento das normas derivadas da pandemia. (...)

E é assim que somos. Disciplinados. Quando cumprimos com mais uma missão não prevista nem orçamentada – a decorrente da pandemia. Mais uma vez soubemos responder e corresponder com o que nos foi determinado, dentro das difíceis condições físicas e emocionais por todos vivenciadas.

Disciplina na exigência profissional. Porque somos o que fazemos repetidamente, consideramos a excelência não um ato isolado, mas um hábito. Queremos ser reconhecidos pela excelência do devir.

O quarto pilar, a Coragem.

Traço de personalidade para uns, demonstração de comportamento para outros, mas mais importante que a discussão semântica ou até mesmo etimológica:

- Coragem para continuarmos.

E vamos continuar.

Nas parcerias, quero salientar a assinatura, hoje, nesta cerimónia, de um protocolo de colaboração entre a Universidade de Coimbra e a PSP, para o desenvolvimento de atividades conjuntas em diferentes domínios e através de projetos específicos. Num futuro já próximo materializaremos este protocolo com trabalhos de inteligência artificial e análise de big data na área da investigação criminal. Que esta relação UC/PSP seja o corolário e o combustível do conceito "pracademics’ – a união entre a prática e a academia – entre o fazer e o saber.

Está já em curso o protocolo de cooperação entre a Câmara Municipal de Coimbra, o Centro de Estudos Interdisciplinares da UC e a PSP, para viabilização da investigação bibliográfica e documental, elaboração de monografia, com produção de livro sobre a História do Comando Distrital de Coimbra da Polícia de Segurança Pública.

Com coragem continuamos a perseguir o recrutamento por mobilidade de funcionários públicos. No processo da Bolsa de Emprego Público de 2021, já concluído, aguardamos o início de funções no Comando de Coimbra de 4 técnicos superiores e 3 assistentes técnicos. Para 2022 temos a proposta para mais 5 técnicos superiores; 13 assistentes técnicos e 2 assistentes operacionais. Queremos ser cada vez mais uma instituição de prestígio a nível regional, onde a cultura de trabalho e a imagem de marca sejam, só por si, fatores de atração singulares e distintivos.

Com coragem não descuramos os nossos: temos o nosso projeto de preparação de saída do ativo, temos o nosso projeto com as polícias estrangeiras já referidas. Temos em curso um esforço coletivo de formação para 2022, assente na estratégia nacional. Temos um procedimento preventivo de vitimação policial – Intervenção em Crise. Temos duas psicólogas que trabalham diariamente no comando, sempre disponíveis e inseridas na estrutura nacional de Psicologia da PSP - designadamente clínica e de catástrofe.

Num presente conturbado, marcado por acontecimentos inimagináveis para alguns, de baixo impacto para outros, mas eventualmente cisnes negros como Nassim Taleb refere, há quem contextualize a atualidade de forma muito crua: o problema fundamental é que temos emoções paleolíticas, instituições medievais e tecnologia endeusada. A fúria ou o medo dos Homens, a burocracia e a computação quântica não deixarão de dançar a mesma melodia no futuro próximo.

As mudanças velozes na tecnologia, na demografia e no clima remodelarão o Mundo de maneiras que muitos de nós ainda não entendemos. Neste mesmo mundo, ainda pandémico, e onde o contrato social está em crise, mais do que uma grande resignação, a oportunidade é de uma grande reorganização, onde é cada vez mais notório o tema da saúde dos profissionais que diariamente zelam pela segurança pública, onde importa reconhecer que o padrão é fazer o melhor possível com o que está disponível. Ou usando a mensagem do Filósofo Mário Sergio Cortella: a mediocridade é falta de empenho, e empenho é fazer o melhor possível, nas condições que temos, enquanto não temos condições para fazer melhor ainda. Por isso não temos uma postura de crítica barata e fácil, muito menos desculpante por culpa de outrem. Ao invés, no Comando de Coimbra procuramos, com coragem e empenho, a eficácia e a eficiência em prol de um serviço de qualidade assente na melhoria contínua e na humanização do saber fazer, e do saber ser e estar.

Assim, a nossa estratégia continuará a ser centrada nas pessoas. A prossecução da nossa missão assentará num conjunto de valores e princípios de atuação, transversais a todas as operações, projetos, iniciativas, atividades e tarefas, e explicitamente enunciados na Carta de Princípios do Comando: respeito pela condição policial, pela disciplina e pela hierarquia que nos caracteriza, e de forma humilde, participada, isenta, competente, honesta, leal, aprumada e confiável. Para trabalhamos em conjunto, em prol da nossa felicidade e de uma sociedade segura, tranquila e sustentável.

O nosso propósito é o nosso "porquê", que se encontra na interseção de quem nós somos e da missão de desempenhamos. Sempre na via pública. Vinte e quatro horas por dia, todos os dias. Como já poucas instituições o fazem.

O nosso propósito é o nosso “porquê”, que assenta em ética policial e aspiração moral, e por isso torna-nos distintos. Somos uma marca que é reconhecida em Portugal e além-fronteiras. Assim o demonstram os resultados do inquérito nacional de satisfação da população sobre a PSP, disponíveis no nosso site. Assim o demonstram os indicadores e os classificadores internacionais.

Porquê?

Agora que termino, podem perguntar.

Para vos responder, deixem-me ao meu jeito vos agraciar.

A resposta é clara, simples e concisa.

Assim ditam as regras vigentes.

Será porque a PSP é precisa?

Ou será por motivos diferentes?

Atentem no que vos digo:

A resposta é da razão e do coração.

Orgulho no azul que tenho comigo,

Orgulho na minha Profissão.

Porquê?

Porque somos uma Polícia integral, humana, forte, coesa e ao serviço do Cidadão.

Porque somos, há 144 anos, o Comando de Coimbra da PSP, pois então!